Divido com vocês, um presente maravilhoso da amiga artista plástica Selma Weissmann
que assina a capa da Antologia ME 18, publicada quando
Mulheres Emergentes completou 18 anos. Selma  ilustra meu conto A Matriarca, para meu deleite! 
Bom domingo!!! Bom dia!!!



A Matriarca  – tânia diniz

                                          Imagem: Selma Weissmann – BH – Julho.15


                                  A Matriarca



Dominando a grande sala, sentada em sua enorme cadeira maciça, de
pernas altas e alto espaldar, ornada de belas figuras entalhadas na madeira,
a Grande Mãe, toda nua aconchegava em seu seio esquerda uma criança menor.
Loura e pálida, esta filha se alimentava sugando sonhos, muito carinho,
afagos e carícias. Na hora do almoço, já lhe escorriam pela boca sensualidade
e preguiça. Muita preguiça, até de pensar. Com os olhos nublados de sonhos e
distração, dormitava, sempre unida à grande teta. Ao seio direito, uma
criança maior, morena e de delicada aparência, se nutria de inteligência,
aguda percepção e sensualidade. E ao almoço, esta filha já se aconchegava
mais e sugava com força: agressividade, impaciência e irritação. Ás vezes,
lambia os lábios, ao escorrer algum gosto pela dança ou por algum idioma. E a
Mãe Grande acalentava-a com olhar de bonança ou com um afago da vasta e meiga
mão. Em certos horários, vinha o Pai. E sugava ora cada seio e se nutria de
todas as necessidades: or lambia sexo, ora babava dinheiro, ás vezes estalava
os lábios em descobertas, ou chupava, prazeroso, compreensão. Houve tempo,
outrora, que se nutria só de beleza e aspirações. E a Mãe o olhava
benevolente, em seu regaço. Ás vezes, vinham alguns vizinhos, sugavam alguma
atração, alguma inveja ou algum prazer e logo se iam, satisfeitos. Às vezes,
alguém desejava tristeza, e vinha ao crepúsculo. Quando vinha alguém mais
chegado, talvez membro da família, se satisfazia ora em cada seio e saboreava
finos e raros paladares: como doce sintonia de alma, como pura alegria de
viver. E a todos a Grande Mãe sorria e acalentava, semicerrando os olhos
muitas vezes e se lembrando de sua primordial fonte de energia, onde não se
recordava mais de há quantos milênios se iniciara na arte da Grande
Alimentação. Revia a luz e o lado escuro do Poço Mágico do Tempo Eterno. E
revisava seu mosaico, controlava seu interno caleidoscópio e suspirava prazer
em sua Unidade, jorrando a Identidade de seu Eterno Manancial.
 
                                                                                           Tânia Diniz


Chau…

Comentários

  • Eliane Accioly
    Reply

    Delicioso o conto. E a ilustração! Parabéns!

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