Queridos,
venho tentando postar há alguns dias e não conseguia, algum erro da minha ineficiência tecnológica, claro. Agora consegui, huhuhu!!!!

Queria deixar um abraço para os Papais e mães que se desdobram em pais, pelo seu Domingo.
E mais uma vez, minha saudade eterna do meu amado paizinho, que partiu em 2014.

E uma grande alegria que tive em julho, mês passado, proporcionada pela amiga Myrian Naves. (Gratidão!). Convido-os a conhecerem, a visitar essa bela Revista:

Revista InComunidades –   Revista iNcOMUNIDADES  -ANO 4 EDIÇÃO 58 – JULHO 2017 –  Portugal

Tânia Diniz
Uns contos e a poesia de Tânia Diniz
Requinte
Sentia-se inspirado esta noite. Aprontou-se com apuro. O espelho
devolveu-lhe a imagem perfeita em black-tie. Com um sorriso sensual, passou a
mão pelos cabelos e, cantarolando, desceu as escadarias.
O imenso salão do castelo estava primorosamente arranjado, com flores e velas
entre fugazes cortinas e espessos tapetes. A grande mesa ao centro, bem
preparada.
Deixou a rubra taça sobre o aparador. Um gole lhe bastava.
Sentou-se no único lugar, a ele destinado, bem em frente à imensa salva de
prata ao centro da mesa. E, ajeitando o guardanapo de linho branco, com
elegante gesto, destampou-a.
Delicioso aroma flamejou-lhe as narinas. Maravilhou-se com o refinamento do
cardápio. Entre perfeitas cerejas, cachos de uva, alguns dourados pêssegos
afundados em ninhos de fios de ovos e salpicados fígados de pombos, estava a
mais delicada iguaria que já lhe fora servida: esplêndida mulher jazia em
repouso, apenas coberta a pele de marfim por seus cabelos de ébano.
Educadamente, secou os lábios de vinho e iniciou o ritual do banquete.
Com sábias mãos, percorreu o macio corpo, sentindo que seu calor atingia,
assim, quase a elevada temperatura desejável. Envolveu os seios com mãos
conhecedoras. Não resistiu, fugiu a todas as regras de etiqueta: provou-os com
leves mordidas. E como a carnuda boca o tentasse também, lambeu-a e explorou-a
por dentro.
Ao discreto pigarrear do mordomo que entrava, caiu em si. E, de faces coradas
pelo deslize, ou talvez, pelo apetite, com finos gestos, tomou dos talheres de
prata.
Abriu-lhe delicadamente o peito e devorou-lhe o coração, com tanta elegância,
que sequer um pingo de sangue lhe comprometeu a bem aparada barba azul.
De Segunda Mão
Era um grande depósito, como um ferro-velho, onde se viam empilhados ou
espalhadas, partes de corpo por todos os lados.
Ele entrou, revirou, vasculhou e achou: três seios novinhos e um par de pernas
razoáveis, com pouco uso. Ligeiro defeito no dedo menor do pé esquerdo.
Escolheu ainda uns largos quadris, onde pretendia curtir preguiça como no
regaço da mãe. E procurou uma voz mansa para contar histórias na hora de dormir
mas, não havia. Não sabia para quê, mas não resistiu a uma mão direita de
longas unhas vermelhas. Levou-a. Talvez servisse como porta-qualquer-coisa,
para dar adeuses ou para se coçar. Já ia saindo quando uns olhos verdes, de
longas pestanas, pendurados perto da porta, deram-lhe uma piscada irresistível.
Levou-os também.
E todo feliz, cheio de embrulhos, saiu imaginando com que retalhos de ilusão
costuraria (e que rechearia  de sonhos e romãs) as partes que vinha
juntando, há meses, para fazer sua mulher ideal, de segunda mão.
Desamor
Ela vinha contente contar-lhe as novidades. Ele, preocupado, pedia para
esperar um pouco. Ela esperava, o pouco passava e ela se esquecia. Nada
contava.
Novos acontecimentos, vem ela contente, querendo falar.
Ocupado com a tv, ele pede para esperar.
Ela, calada, espera, até se esquecer.
De novo vem ela querendo contar, e ele agora está lendo, pede pra calar. E ela,
calada se vai, pra mais esperar.
E quando chega o tédio, sem problemas ou lazeres, querendo se animar, ele a
chama contente, e pede pra contar. E ela, atônita, tentando lembra, descobre,
infeliz, que já não sabe falar.
Temporão
Desde que o seu molar superior amolecera, ele passara todo o tempo a
cutucá-lo, como uma criança na troca dos dentes de leite.
Movia-o sempre com o indicador, gozando a sensação de prazer doloroso que a
perda gradual do dente lhe provocava.
Até que o molar soltou-se inteiro da gengiva e exultante como um menino, ele
jogou-o no telhado.
Mas o dente teimoso caiu-lhe de volta nas mãos. Resolveu então plantá-lo. Fez
um buraco no canteiro, revolveu e colocou-o ali, pela raiz, cobrindo-o com
terra adubada. Molhou bem. E todos os dias o regava.
E quando brotou o belo sorriso entreaberto, acompanhou contente seu
desenvolvimento até abrir-se em um riso cristalino.
Colheu-o então (antes que se tornasse um sorriso amarelo, pensou), colocando-o
em bela jarra de prata com água fresca a um canto da mesa.
Ali, ele alegrou o ambiente até tornar-se uma grande gargalhada, quando então,
lhe caíam os dentes e despetalou.
  Culpas
Amava-o assim mesmo, sem grandes emoções, pois que o tempo as acalmara,
havia muito. Não importava a gagueira, ouvia-o com infinita paciência e até
sofria pela aflição dele em querer dizer palavras inteiras, sem sucesso.
Afinal, ele ficara assim por ela, pelo grande susto que levara ao quase
perdê-la um dia, para o rei de vizinho país. (Ao lembrar-se do distante
episódio, ainda um pequeno travo amargou-lhe a boca, pela saudade do que
poderia ter sido.)
E assim, acomodou-se na cadeira de balanço, tomou da linha e da agulha e,
pacientemente, começou a alinhavar-lhe as palavras.
Borboleta
Um beijo
      pelo corpo 
inteiro
                          ligeiro
deixou
 uma borboleta
                       roxa
    mordida
                   na 

                             coxa
 
 guardo na pele

o calor do sol


a sede de lua


(a seda da pluma)?

A renda do tempo

E o terno afago da mão


-a tua.


 


 


  

E
m corpoárido  seco terreno
ardeste fogueiras, distraído
Fez-se fogo farto    fogo-fátuo
e sem ti, anjo torto,  corpotraído,
 jaz agora
             fogo morto.

Luas

 Na lua nova
       de recurvo brilho
       a paixão renovas

No meu céu
    de cio crescente
   a chama alteia

           E serpente e sereia           

           me encontro vindo:
                               lua cheia

            E quando,bacante,                  

           mesmo minguante,
              me prendes a cintura
                    na quadratura de cada mês,
                                               a cada vez,
            desvendas com arte
        a sanguínea face
              de minha lua escarlate.

                            

 

Reinos

Ter
formas de maçã
A surpresa
de textura e cor
da romã
Do caju,
sumarenta carnadura
Da goiaba de vez,
o frescor
Então,
apetitosa e nua
a fome acesa
em tua mesa,
ver, talvez,
o emergente calor
da tua carne dura.

Narciso assustado:
feixe de rugas!
Brisa no lago.

     


voo dos pássaros!
fio costurando ligeiro
o céu ao mar.

delicado manjar
ao sol da manhã:
banana-maçã.

                   

casa iluminada

n’outra margem do lago.
navio singrando a noite!

 


Pintura

Me faço
Traço
Nanquim 
na tua tela
Ponto,elipse,
Paralela 
Me disfarço 
Esfera 
no trapézio 
do papel
Danço 
losango absurdo
na horizontal
triângulo essencial
ao teu pincel
Me dissolvo 
Caravela
em águas   
de aquarela.



Tânia Diniz
foto Daniel Diniz – Exposição na Rua Sherbrooke – mai/jun 2017 – Montreal- Canadá

Tânia Diniz
é poeta e editora brasileira, reside em Belo Horizonte, capital de Minas
Gerais. Tânia Diniz. Graduada em Letras, pela UFMG (português, francês,
italiano e espanhol). Poeta, contista, editora, promotora cultural, professora
de idiomas, palestrista, oficineira , editora-idealizadora do mural poético
Mulheres Emergentes, em 1989_ publicação trimestral de circulação
internacional_ pelo qual já organizou 07 Concursos Internacionais de Poesia,
Contos, Lendas e Ilustrações. Livros de contos: “O Mágico de Nós”, “Rituais”.
Poemas:  “Mulher EmBalada”, “Bashô em Nós”, “Relato de Viagem à
Marmelada”, “Flor do Quiabo”, “Série Preciosa”, entre outros. Trabalhos
publicados em diversas antologias, revistas e jornais nacionais e estrangeiros,
impressos e virtuais. Diversos trabalhos premiados em concursos literários no
Brasil e exterior. Embaixadora Universal da Paz, Cercle Universel des
Ambassadeurs de la Paix – Suisse / France, Poeta del Mundo.
www.mulheresemergentes.com  
             
(foto/Daniel Diniz : exposição na rua Sherbrooke, Montreal,
Canadá-junho2017)
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Revista InComunidade, Edição de JULHO
de 2017

FICHA TÉCNICA

Edição e propriedade: 515 – Cooperativa Cultural, ISSN 2182-7486

Rua Júlio Dinis número 947, 6º Dto.
4050-327 Porto – Portugal

Redacção: Rua Júlio Dinis, 947 – 6º Dto. 4050-327 Porto –
Portugal
Email: geral@incomunidade.com

Director: Henrique
Prior       Director-adjunto: Jorge
Vicente

Revisão de textos: Filomena Barata e Alice Macedo Campos
Conselho Editorial:
Henrique Prior, Alice Macedo Campos,
Cecília Barreira, Clara Pimenta do Vale, Filomena Barata, Jorge Vicente, Maria
Estela Guedes, Maria Toscano, Myrian Naves

Colaboradores de JULHO de 2017:
Henrique Prior, Alex Sartorelli,
Alexandre Marino, Andre Caramuru Aubert, Caio Junqueira Maciel, Carlos
Barbarito, Carlos Matos Gomes, Cecília Barreira, Denise Bottmann, Elisa Scarpa,
Eunice Boreal, Fernando Rocha, Henrique Dória, Javier Galarza ; Rolando
Revagliatii, Joaquim Maria Botelho, Joel Henriques, José Gil, Leida Reis, Maria
Estela Guedes, Maria Toscano, Marinho Lopes, Maurício Cavalheiro, Moisés
Cárdenas, Ricardo Pedrosa Alves, Ricardo Ramos Filho, Risoleta C. Pinto Pedro,
Rodrigo Novaes de Almeida, Tânia Diniz

Foto de capa:
ANTONIO DACOSTA, ‘Dois limões em
férias’. Ano: 1983

Paginação:
Nuno Baptista

Os
artigos de opinião e correio de leitor assinados e difundidos neste órgão de
comunicação social são da inteira responsabilidade dos seus autores,
não
cabendo qualquer tipo de responsabilidade à direcção e à administração desta
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